O
atual mundial interclubes

Se a chamada Copa Intercontinental tinha o formato praticamente ideal para o início dos anos 60, ao longo do tempo
também foi ficando obsoleta. Confederações de outros continentes, entre fracassos e sucessos, também foram ajustando suas competições continentais, e passaram a querer participar da disputa que valia o título de campeão mundial interclubes.
Como a FIFA não demonstrava muito interesse nas competições que envolvessem quadros de clubes, UEFA e CONMEBOL seguiram realizando a Copa Intercontinental no seu formato original,
concentrando a disputa apenas entre europeus e sul-americanos.
Até que,
em 17 de
Maio de 2004, a FIFA anunciou um acordo com as confederações
continentais para substituir a Copa Européia/Sul-Americana
por um novo mundial interclubes, a partir do ano seguinte. A principal
mudança no modelo de disputa era justamente a inclusão de clubes campeões de
outros continentes - até então, como já explicamos, apenas sul-americanos e europeus
poderiam alcançar o topo do mundo.
Conforme o
combinado, a última edição da Copa Européia/Sul-Americana
foi disputada normalmente em 2004, e o Porto, de Portugal, sagrou-se
campeão mundial. Em 2005, uma nova
taça, com o formato do mundo em sua
parte superior, foi desenvolvida para o novo modelo do torneio, batizado
oficialmente de Campeonato Mundial de Clubes.
Apesar de
levar o mesmo nome do "polêmico torneio" organizado
pela própria FIFA, em 2000 - que foi conquistado pelo Corinthians -, a
entidade máxima do futebol não tratava a "nova versão"
do Campeonato Mundial
de Clubes como uma "segunda edição" ou algo do tipo. Pelo
contrário. Especialmente por conta do acordo com a UEFA e a CONMEBOL, a
FIFA declarava publicamente que o novo formato para a apuração do
campeão mundial interclubes tratava-se de uma espécie de
"evolução" do que já existia na chamada Copa
Intercontinental, e não do seu primeiro torneio, organizado em 2000 -
que acabou ignorado e ficando de fora até mesmo da unificação das estatísticas, num primeiro
momento.
Aliás, a
competição disputada no Brasil também foi desprezada pela FIFA em
seu próprio DVD institucional, o "FIFA Fever", lançado em 2005 - dias
antes do início do novo mundial - para comemorar o
centenário da entidade (1904-2004). No
documentário, a FIFA mostra imagens das 17 Copas do Mundo até então
realizadas (1930-2002), de torneios de categorias inferiores e até
mesmo de futsal, mas ignora completamente a existência do chamado
"Mundial de 2000". E a coisa não parou por aí.
Na
sequência, por ocasião do lançamento oficial do "Mundial de Clubes de
2005", a entidade máxima do futebol listou os clubes campeões
mundiais em seu site e, é claro, o Corinthians não figurava na lista - o título
conquistado pelo clube em 2000 foi colocado à parte pela FIFA,
como sendo de uma competição diferente, não equiparável, e que nunca
mais seria disputada.
Todas
essas atitudes da entidade tiveram repercussão
imediata - e geraram muita polêmica na época -, especialmente pelo
fato de o Corinthians ter sido o
vencedor de um torneio organizado pela própria FIFA - e com o mesmo
nome da competição vigente. Para minimizar os questionamentos, a entidade máxima do futebol
rapidamente tratou de "atualizar" os seus
arquivos, passando a
incluir o Corinthians na mesma lista dos demais campeões - mas
seguiu cometendo "gafes".
Nos bastidores, no entanto, a FIFA não desistiu de tentar desvincular o seu novo torneio daquele realizado em 2000.
Até por conta disso - para se evitar qualquer confusão entre os torneios
por causa da nomenclatura -, em 2006 a competição mudou de nome, passando a se chamar oficialmente de Copa do Mundo de
Clubes.
Mas não
teve jeito. Após alguns clubes buscarem o reconhecimento da entidade
para títulos conquistados em competições anteriores - o que gerou
novas polêmicas -, a FIFA
"assumiu de vez" o título
do Corinthians - às vezes ainda o "esquecia", mas de modo geral
passou a reconhecê-lo oficialmente - e mudou seu entendimento sobre o histórico da
competição em 15 de Dezembro de 2007 (confira mais detalhes no quadro
abaixo).
Com
relação ao formato de disputa da Copa do Mundo de Clubes, outra alteração
importante a partir de 2007: o clube campeão nacional do país-sede
passou a ter chance de participar da disputa mundial, desde que nenhum
outro time desse país anfitrião vença o torneio de seu respectivo continente - caso isso aconteça, o
campeão nacional perde a vaga, pois a FIFA não permite a participação
de dois clubes do mesmo país na versão atual do torneio
(diferentemente do que ocorreu no torneio realizado no Brasil, em 2000).
Embora não seja comum a final não reunir dois campeões continentais,
fato é que desde 2007 existe essa possibilidade. E isso em nada desmerece a competição, pois hoje os critérios
são muito claros, e o local da disputa é anunciado com antecedência,
de forma que as equipes do país-sede possam se preparar, visando à
participação no mais importante campeonato interclubes do mundo.
Apenas por
curiosidade,
vale destacar que, como as edições da atual Copa do Mundo de Clubes da
FIFA são realizadas em
países cujo futebol praticado é considerado "fraco" - tais como Japão,
Emirados Árabes Unidos, Marrocos e Qatar -, até 2021, quando foi disputada a
17ª edição do torneio
- e
a 15ª nesse formato que permite a participação do campeão do
país-sede -, em apenas três oportunidades os clubes locais chegaram à
final do torneio: o Raja Casablanca (do Marrocos) em 2013, o Kashima
Antlers (do Japão) em 2016, e o Al Ain (dos Emirados Árabes) em 2018.
Em todas essas ocasiões os "times da casa" foram derrotados
por clubes europeus, tornando-se vice-campeões mundiais.
Outro
clube de fora do "eixo Europa/América do Sul" que também chegou ao
vice-campeonato mundial - sendo igualmente derrotado na final por um
clube europeu - foi o TP Mazembe, campeão africano de
2010. Já os clubes mexicanos - que insistiam com alguma
frequência para participar da Copa Intercontinental - só foram chegar à final do chamado Mundial de Clubes da
FIFA em 2020, com o Tigres, que também foi derrotado pelo clube europeu
finalista, o Bayern de Munique.
Outra
curiosidade sobre a competição é que na edição de 2021 a Oceania
não tinha um campeão continental, devido à pandemia da Covid-19. Com
isso, a confederação continental indicou o Auckland City, da Nova
Zelândia, com base em um ranking. Porém, a equipe indicada desistiu da
disputa do torneio mundial, e a confederação acabou indicando o AS
Pirae, do Taiti, uma equipe praticamente amadora, em que seus jogadores
tinham outras profissões além do futebol.
Foto:
Flavio Florido / UOL

Vencedor do torneio em 2012, o Corinthians é o clube brasileiro
e sul-americano campeão mundial mais
recente.
A
versão da FIFA sobre o histórico da Copa do Mundo de Clubes
Em 10 de Dezembro de 2004, a FIFA divulgou, em seu site oficial, uma nota dando
"adeus" à Copa Intercontinental e
"boas-vindas" ao Campeonato Mundial da FIFA. No comunicado (em inglês), a entidade máxima do futebol trata o novo torneio como uma evolução da Copa Intercontinental e ignora completamente a edição de um torneio concorrente, realizado pela própria FIFA, em 2000, no Brasil. "A partir de 2005, a Copa Toyota (oficialmente Copa Européia/Sul-Americana), tradicionalmente um jogo único (desde 1980) entre os campeões da Europa e da América do Sul, vai assumir uma nova dimensão, tornando-se o Campeonato Mundial de Clubes da FIFA, disputado pelos clubes campeões de todos os seis continentes."
Ainda no mesmo texto, ao comentar sobre a decisão - a última da Copa Intercontinental - entre Once Caldas, da Colômbia, e Porto, de Portugal, a FIFA insinua certo favoritismo aos portugueses, mas lembra que "o clube colombiano superou o campeão mundial Boca Juniors na final da Copa Libertadores" - o clube argentino era o atual campeão da própria Copa Intercontinental. Portanto, enquanto o título do Corinthians em 2000 era ignorado pela própria FIFA em seu site oficial, não havia dúvidas de que o novo mundial interclubes ofereceria ao seu vencedor o mesmo título que a antiga Copa Intercontinental: o de campeão mundial.
Leia
o comunicado na íntegra (em inglês).
No
entanto, conforme já explicado anteriormente, com a repercussão - especialmente no Brasil - do "esquecimento" do título de 2000 do
Corinthians por parte da FIFA, a entidade máxima do futebol rapidamente tratou de "atualizar" seus arquivos
- ainda em 2005 - e a incluir o clube paulista na lista dos campeões
mundiais - embora eventualmente seguisse a cometer gafes sobre o
assunto.
Já
em Março de 2007, após analisar detalhadamente um pedido do Palmeiras, a FIFA reconheceu oficialmente que o Torneio Internacional de Clubes Campeões - ou Copa Rio -, vencido pela equipe paulista, foi a primeira edição do "Campeonato Mundial de Clubes" da história. Com essa decisão, alguns clubes se sentiram no direito de reivindicar o reconhecimento de
outros títulos - inclusive de torneios amistosos -, passando a pressionar e a incomodar a
FIFA, que até então reconhecia como campeões mundiais os
vencedores da Copa Rio de 1951, da Copa Intercontinental - de
1960 a 2004 - e dos torneios organizados por ela própria - em
2000 e a partir de 2005.
Sendo assim, em 15 de Dezembro de 2007, através de um informe
à imprensa (media release), a FIFA se manifestou
novamente de maneira oficial - e que parecia definitiva - sobre o assunto: "A
respeito da história da Copa do Mundo de Clubes da FIFA com
relação às competições intercontinentais de clubes em anos
passados, como a Copa Rio dos anos 1950, o Comitê Executivo da
FIFA aprovou a ideia de que a primeira edição desta competição
foi realizada em 2000 no Brasil, onde o Corinthians se tornou o
primeiro campeão mundial de clubes da FIFA. Outros torneios não
são considerados eventos oficiais da FIFA."
A partir deste comunicado, a FIFA passou a se isentar de qualquer responsabilidade ou questionamento referente a competições anteriores, mas não "retirou" suas oficializações - como competições mundiais - perante as respectivas entidades organizadoras - CBD no caso da Copa Rio e UEFA/CONMEBOL no caso da Copa Intercontinental. Questionada
sobre o assunto pelo Ranking de Clubes Brasileiros, a FIFA, através de seu Departamento de Mídia, reiterou este posicionamento: "As estatísticas oficiais da FIFA se limitam aos torneios organizados pela mesma. Outras competições de clubes não aparecem nas estatísticas oficiais da FIFA pela simples razão de que não foram organizadas pela mesma. Isso não significa que a FIFA não valoriza estas competições. Simplesmente fornece estatísticas apenas de suas próprias competições."
Copa
Rio de 1951 e Copa Intercontinental voltam a ser reconhecidas pela FIFA
Em Junho de 2014, a FIFA acatou um pedido da
CBF para reconhecer, de maneira definitiva, o Torneio
Internacional de Clubes Campeões (Copa Rio) de 1951 como a
primeira Copa do Mundo de Clubes da história. Clique aqui
e saiba mais.
Já em Outubro de 2017, a entidade máxima do futebol atendeu a um pedido da CONMEBOL, reconhecendo - também de
maneira definitiva - os vencedores da Copa Intercontinental (1960 a 2004) como campeões mundiais. Clique
aqui
e saiba mais.
Apesar do reconhecimento formal dessas competições pelo seu Comitê Executivo, a FIFA nunca mais unificou
quaisquer tipos de dados com as estatísticas dos torneios por
ela organizados.
A
opinião da FIFA sobre a Copa Rio de 1952
Em Janeiro de 2017, ao responder a um questionamento do "Estadão", a FIFA
reafirmou a decisão de seu Comitê Executivo sobre a conquista
do Palmeiras, e também disse reconhecer e valorizar a Copa Rio -
inclusive a de 1952 - e a Copa Intercontinental como competições de clubes em nível mundial.
Esta foi a primeira vez que a FIFA mencionou literalmente que
também reconhecia a edição de 1952 da Copa Rio como uma competição
de caráter mundial. Confira na íntegra o comunicado da
FIFA.
No entanto, até o momento, a Copa Rio de 1952 é a única competição já mencionada pela FIFA como
sendo de nível mundial que ainda não possui um veredicto formal do comitê da entidade.
Competições oficialmente reconhecidas pela FIFA, através de seu Comitê Executivo:
- Torneio Internacional de Clubes Campeões/Copa Rio (1951);
- Copa Intercontinental/Européia Sul-Americana (1960 a 2004);
Competições oficialmente organizadas pela FIFA:
- Campeonato Mundial
de Clubes da FIFA (2000);
- Campeonato
Mundial de Clubes / Copa do Mundo de Clubes da FIFA (a partir de 2005);
Vale destacar
que atualmente essas são as
únicas competições que possuem as estatísticas oficialmente unificadas
pela entidade máxima do futebol. Outras
competições - também reconhecidas como de nível mundial -
não são consideradas como eventos da FIFA.
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